14th Alumni of Color Conference (AOCC)

[This post is featured at the Arts Connect International website.]

This past week I had the privilege to attend the 14th Alumni of Color Conference (AOCC) on behalf of Arts Connect. The conference took place at the Harvard Graduate School of Education from March 3-5. ACI’s exhibit, Shades of Inclusion, was part of the conference and could be found in the Gutman Conference Center where multiple events where held. By the time the conference came to a close and I headed home, I was overwhelmed by a sense of excitement, responsibility, and inspiration. Here I’d like to speak of some of the work I saw and ideas I encountered. 

First things first: what was the conference about? If you go to their website they will tell you the conference “aims to inspire and transform education by convening educators, scholars, researchers, practitioners, policymakers, and students concerned with issues of race, class, and education as they pertain to all people and, in particular, to Communities of Color.” It’s a tall order, but it’s also precisely what they delivered with a thoughtful mix of workshops, panel discussions and opportunities for reflection. [...]

You can read the full piece here!

 

 

Entrevista - EAC

No começo desse ano tive a oportunidade de conversar com a responsável pelo setor de comunicação e comunidade do Conselho de Artes de Edmonton (EAC), Kristina De Guzman. Um ano antes, enquanto ainda residia em Edmonton, tive a honra de receber do EAC um prêmio de diversidade cultural que visava subsidiar artistas locais em seus projetos e carreiras--a entrevista foi um acompanhamento desse projeto, uma forma de olhar pra trás e ver o que foi feito. 

Na entrevista conversamos sobre dois trabalhos do começo de 2014, Narrow is the Road e Corpo Confesso, aos quais pude me dedicar graças aos recursos do prêmio. Conversamos bastante também sobre o Curto-Circuito, projeto que ocupou a maior parte do meu ano e que também contou com uma bolsa de viagem conferido pelo EAC à Allison, a solista da nossa série de concertos, que permitiu que ela se deslocasse do Canadá ao Brasil. Por fim, pude falar um pouco da minha trajetória e de como acabei indo parar em Edmonton por três anos. 

Fica aqui meu agradecimento e admiração pelo trabalho incrível do EAC--trabalho esse que transcende o caráter municipal da instituição e se faz sentir lá longe. 

Para quem quiser ler a entrevista: LINK.

Linha de Sombra

I - introdução

                  Sempre que termino de escrever uma música passa pela minha mente escrever algo a seu respeito; dar vazão aquelas mesmas ideias musicais que se concretizaram em sons, só que desta vez, em palavras. Confesso, entretanto, a vontade é passageira, pois me pergunto, afinal, qual o propósito deste efêmero desejo. A música não carece de explicações ao público. Muitas vezes as palavras podem até mesmo desviar a escuta e dizer coisas completamente diferentes que com ela não se relacionam. Isso porque, antes de tudo e de qualquer entendimento, a música mexe com nossos afetos e sensações. São os afetos que nos dizem algo; e aquilo que nos dizem é a potência do que sentimos ao ouvir. Com essa imagem podemos considerar, em princípio, falar sobre música é falar de uma potência que nos afeta em algum sentido fora do ordinário. Este processo é oposto ao entendimento elaborado por explicações dissipadas em abstrações cujo o principal efeito é levar o público a percorrer grandes distâncias entre o compositor e sua obra. Por estão razão, arrisco a dizer, há sempre um ar de suspeita que paira sobre o compositor quando ele se põe a falar e a explicar sua própria música, pois, no fundo, nunca há o que explicar. Há tão somente que se esperar uma música que faça sentido, não com as palavras mas com outras coisas bem diversas, não raro, indefiníveis como uma imagem, um sentimento, uma energia... tudo conjugado numa força que pode ou não nos levar a manter atenção nos sons que sentimos e não sabemos como definir, isto é, dizê-los ao certo. Como esta posição é por demais passiva tendemos, invariavelmente, a falar algo que julgamos relevante neste processo. E neste momento, como criadores, saímos dizendo coisas – ideias, abstrações e técnicas – para nos confortar, ou para dizer a nós mesmos de todas aquelas coisas que duvidamos no processo criador que elas valem alguma coisa.

                  Inventamos coisas que falem por nós, pela música que optamos fazer. Mas nem sempre isto está claro, pois, em geral, antes de pensar na condição pela qual saímos dizendo algo de nossas músicas, inventamos múltiplas razões para explicar a criação, quando na verdade há apenas uma: a necessidade. No fundo todas as análises, todas as filosofias da música, todas as soberbas se resumem a apresentar e esmiuçar uma necessidade aos outros, a necessidade de criar. Criamos música porque sentimos necessidade de fazê-lo. Gilles Deleuze é quem disse essa feliz frase em certa ocasião tratando das ideias da filosofia. Penso com ele que criamos por absoluta e indivisível necessidade. Então venho aqui falar um pouco desta insondável necessidade. E cá estou eu me pondo numa situação de risco em ajeitar aqui as melhores palavras que mais próxima estão do sentido de representação desta peça.

Trecho da parte I, 'Wavering Line'

                  II - Comentário sobre linha de sombra

                   Em termos de poética criativa, me inspirei na atmosfera do livro homônimo de Joseph Conrad, 'Linha de sombra'. Devo dizer que foi a primeira vez que um texto literário norteou minhas ideias. Algo que senti enquanto lia este texto carregado de originalidade, por se tratar de um relato verdadeiro do autor, me moveu, me fez imaginar uma paisagem em movimento. Uma imagem preponderou sobre todas: o desdobramento daquilo que se passa no livro entre duas imagens: da calmaria e da tormenta, e seus estados de transição. Para isso escolhi os materiais que julgo mais representativos. Formalmente, a peça estrutura-se em três processos de escrita: uma linha que oscila, um sopro intermitente e o prenúncio do mergulho na escuridão. Tudo em torno desta passagem do livro:

 
De pronto fui tomado pela inquietude, como se me houvessem retirado algum apoio. Também eu movi-me à frente, para além do círculo de luz, rumo às trevas que se erguiam diante de mim como uma muralha. Em um passo adentrei a escuridão. Aquelas trevas deveriam ser como as que precederam a criação do mundo. Fecharam- se às minhas costas. Eu sabia estar invisível ao homem do leme.
— (Conrad, Linha de Sombra, Capítulo VI)

                  Este trecho serviu como ponto de partida para delimitação da atmosfera emocional, vale dizer, da clausura do ambiente composicional em que seu deu numa única estratégia criativa: sustentar de ponta-a-ponta uma linha musical em processo de transição contínua em vista tanto do caráter técnico quanto emocional. A principal questão, para mim, era como manter uma mesma energia emocional do início ao fim da peça, energia que pode-se dizer também sonora. Assim, de início, tratei de desdobrar essa única ideia: conduzir uma linha musical que pouco a pouco modula sua forma de escrita, por exemplo, uma escala transformando-se num arpejo, um arpejo transformando-se num sopro, um sopro transformando em ruído, um ruído transformando-se em luz. Estas múltiplas gradações me revelaram um manejo dos mais simples que se pode ter na manipulação de linhas melódicas: um princípio de conservação de energia. O controle energético das linhas foi minha principal preocupação, pois percebi que cada linha num fluxo se comporta carregando algo da anterior, uma espécie de força motriz, uma energia cinética, um valor que a coloca em conexão com as outras. Assim, em vista dessa transição entre linhas, fiz do ambiente composicional uma transição contínua. Entretanto, para fazer valer esta idéia ‒ linha e imagem em contínua transformação ‒ foi preciso segmentá-la de modo a criar tensão e, assim, algum contraste interno que favorecesse seu ir e vir transformando-se em outra. Criar por assim dizer seus próprios conectores internos: tensores e distensores que movem a linha à frente. E toda esta lógica atravessa o processo de criação desta música. (...) Devo me interromper aqui para enfatizar que nada disso está muito claro para mim, pois me interessa menos a cristalização do entendimento do que o movimento criativo. Espero sempre de uma música a continuidade de suas imagens para que eu possa dialogar com elas e seguir criando, segundo as razões e sensações que me atravessam !

Trecho da parte III, 'Unleashing the Darkness (Storm)'

André Ribeiro é compositor e pesquisador.  Saiba mais.

Uma Semana Faltando

Domingo que vem (10/08) a Allison chega ao Brasil armada de uma coleção de saxofones e uma montanha de partituras. Como costuma acontecer, na medida em que nos aproximamos de uma data derradeira a passagem do tempo se acelera--que digam os compositores que fizeram chover novos trabalhos durante o final de semana. 

Mas nem só de concertos e estreias será o Curto-Circuito. Como não poderia deixar de ser, o saxofone é o tema do negócio. Essa semana fiquei feliz em constatar que há um burburinho na comunidade de saxofone e que muita gente está de olho na nossa programação. Específico para alunos do instrumento, nós teremos dois Master Classes, ambos em Campinas. O primeiro no dia 14, 10h, na Escola Livre de Música; o segundo dia 15, 16h, no Instituto de Artes, Unicamp. Caso você queira mais informações, nos escreva no endereço:
curtocircuito.saxofone@gmail.com 

Eis a nossa programação por cidade:


Concerto de Abertura

São Paulo (dia 11/08)


Dia 11, 14h - Workshop de Composição
Onde: Sala 308, CMU-ECA, USP
Aberto ao público
Dia 11, 19:30h - Concerto de Abertura
Onde: Auditório Oliver Toni, CMU
Aberto ao público (evento no Facebook)
Programa: peças dos alunos Clayton Ribeiro, Guilherme Ribeiro, Marcelo Bonvicino, José Calixto, Marcos de Paula, Paulo Sampaio e Vitor Ramirez (primeira metade); peça do compositor convidado André Ribeiro, assim como trabalhos de Marcos Balter e André Mestre.
Evento gratuito


Concerto 'Saxofonismos'

Sorocaba (dia 13/08)


Dia 13, 20h - Concerto 'Saxofonismos'
Onde: Sala Fundec
Rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro
R$10,00 / R$ 5,00 (meia)
Matéria no jornal Cruzeiro do Sul (leia aqui)
Programação de Agosto na Fundec (aqui)
Programa: trabalhos de Marcos Balter, Rodrigo Bussad, André Ribeiro, Colin Labadie; improvisação com o artista convidado Manu Falleiros


Agenda - Campinas

Campinas (dia 12, 14 e 15/08)


Dia 12, 14h as 17:30h - Workshop de Composição
Onde: Instituto de Artes (sala a definir), Unicamp
Aberto ao público
Dia 14, 10h - Master Class de Saxofone
Onde: Escola Livre de Música, ELM
Rua João Pandiá Calógeras, Cidade Universitária
Aberto ao público
Dia 14, 18h - Concerto 'Saxofonismos II'
Onde: Museu da Imagem e do Som
Palácio dos Azulejos, Rua Regente Feijó, 859, Centro
Programa: trabalhos de Marcos Balter, Rodrigo Bussad, Nathan Davis, Colin Labadie; improvisação com o artista convidado Manu Falleiros
Evento Gratuito
Dia 15, 12:30h - Concerto de Encerramento
Onde: Espaço Cultural Casa do Lago - Rua Érico Veríssimo 1011, Unicamp
Programa: trabalhos dos alunos Lucas Rodrigues Ferreira, Luciano Nazario, Lucas Guedes, Alex Kim Manso, Luís Giovelli e Rodrigo Rossi (primeira metade); trabalhos de André Mestre e participação do artista convidado Manu Falleiros
Evento Gratuito
Dia 15, 16h - Master Class de Saxofone
Onde: Instituto de Artes, Unicamp
Aberto ao público


 
 

14 Estreias

O Curto-Circuito vai acontecer do dia 11 ao dia 15 de Agosto. Com menos de um mês até os primeiros concertos, os compositores inscritos nos nossos workshops tem trabalhado bastante. Ao todo, serão 14 peças sendo ouvidas pela primeira vez, incluindo duas peças dos compositores convidados André Ribeiro e Rodrigo Bussad. Uma estreia é sempre motivo de muita empolgação e felicidade--multiplique isso por 14 e você tem um pouco do que será a passagem da Allison aqui pelo Brasil. 

Reunião do dia 22, no Centro de Cultura Chinesa Tzong Kwan

Nesse mês de Julho, além de uma quantidade enorme de preparativos técnicos e operacionais, nós tivemos 3 encontros para falar sobre as peças, o último deles ontem, dia 22, no Centro de Cultura Chinesa Tzong Kwan, Vila Mariana. Nos reunimos anteriormente no Departamento de Música da USP, e no Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sorona, o famoso "NICS" da UNICAMP. Ficam aqui meus agradecimentos ao André, pelos espaços cedidos em São Paulo, e também ao Jônatas e a Beth, do NICS.

Todo esse trabalho de revisão técnica e composicional tem sido extremamente valoroso. A maioria das peças já foi centro de discussões e, com isso, já puderam amadurecer bastante. Algumas peças--as mais adiantadas--já tem inclusive recebido os comentários por escrito da Allison. Dessa maneira, tenho certeza que durante o workshop correrá de maneira tranquila, e que poderemos alocar tempo para problemáticas mais interessantes. Afinal, ninguém gosta de perder tempo de ensaio revisando notação.

Vale lembrar que não só compositores estarão tendo essa oportunidade tão legal do contato com a Allison. Teremos dois master classes em Campinas (uma na Escola Livre de Música e outro no Instituto de Artes da Unicamp), nos quais os alunos de saxofone terão a oportunidade de mostrar um pouco do seu repertório e receber um feedback de altíssimo nível. 

Começo da peça escrita pelo participante Vitor Ramirez. 

Exemplo da notação de Paulo Sampaio

Dando nome aos bois, segue a lista dos 14 novos trabalhos:

Entrepolos I
 (para sax tenor), de Guilherme Ribeiro 
Desvio para o Vermelho (para sax barítono), de Marcelo Bonvicino
Peça para Sax (para sax barítono), de José Calixto
Suite n.1 (para sax barítono), de Marcos de Paula
Outburst (para sax alto), de Paulo Sampaio
O So'Olhar de Deus no Leste (para sax soprano), de Vitor Ramirez 

Xerox Pirataria (para sax barítono), de Lucas Rodrigues Ferreira
Ecos (para sax tenor), de Luciano Nazario
Salmo 21 (para sax barítono), de Lucas Guedes
Vista de São Paulo (para sax barítono), de Alex Kim Manso
Pontos da Noite (para sax tenor), de Rodrigo Rossi
Dex (para sax tenor e tape), de Luis Giovelli

Linha de Sombra (para sax alto), de André Ribeiro*
Kundalini (para sax alto), de Rodrigo Bussad*
*compositores convidados


Algumas boas notícias sobre o Curto-Circuito:
- Estamos em vias de fechar um quarto concerto para o evento! É bem possível que Sorocaba também entre no nosso roteiro musical.
- Tudo combinado para termos gravação de audio e vídeo no concerto de São Paulo!
- Deu certo, também, de termos duas fotógrafas cobrindo os concertos, os master classes e o workshop em Campinas. Logo depois do workshop da Unicamp teremos uma pequena sessão de fotos com os compositores para que cada um leve consigo mesmo uma fotografia profissional ao estilo headshot. 


Apoio:
Edmonton Arts Council
CIDDIC e Instituto de Artes, Unicamp
Escola Livre de Música, ULM
Grupo de Vésperas, CMU, USP





Entrevista

Entrevista com Allison Balcetis sobre o Curto-Circuito Internacional de Saxofone que acontecerá de 11 a 15 de Agosto, em São Paulo e Campinas.
<<english version of the interview>>

O que te atrai à prática de música contemporânea e o seu repertório?

- Um número de coisas. Embora eu mesma não componha, adoro estar o trabalho atrás das cortinas--ouvindo sobre as ideias iniciais, dando concelhos, ajudando e tocando as primeiras versões de um trabalho. Eu gosto muito de tomar parte no processo criativo. Logo cedo no estudo do saxofone, eu percebi que não haviam muitas grandes peças nos repertório clássico do instrumento, e o jazz também não atraia de maneira maneira que eu pudesse dedicar toda minha vida a ele--foi assim que eu descobri a música contemporânea, enquanto estudava com John Sampen na Bowling Green State University. Até por uma necessidade, o repertório para saxofone estava crescendo muito já que o instrumento é relativamente jovem e as opções, escassas. Não foi até a década de 70 que os compositores realmente começaram a prestar atenção na capacidade e nas qualidades essenciais do instrumento. Filosóficamente, também, sempre me atraí por essa região limítrofe da cultura, de lutar batalhas "improváveis". A natureza desafiadora dessa música me atrai. É importante desafiar o senso estético das pessoas e ir atrás das perguntas difíceis como "seria isso música?" Precisamos mesmo que tudo seja "belo"?

Você parece ser uma pessoa que valoriza muito a colaboração artística. Por quê?

- Basicamente, como interprete, eu vejo que colaboração é um ponto chave. O ato de escrever suas ideias no papel, entregá-lo a alguém e esperar que essa pessoa saiba exatamente o que você quer, é, acho eu, um enorme desafio. Essa dificuldade, porém, diminui muito quando ambos os envolvidos podem simplesmente... conversar. Pessoalmente, eu gosto muito de revelar aos compositores, muitas vezes novos ao instrumento, as possibilidades que o saxofone contém: tímbres, alcance, recursos, tudo. Eu sinto que trabalhos que são fruto de colaboração tendem a ser muito mais idiomáticos, algo que eu valorizo imensamente.

Você já veio para o Brasil alguma vez? O que você imagina que irá encontrar?

- Eu nunca estive na América do Sul! Me sinto bastante feliz e honrada por, logo de cara, estar envolvida com tantos artistas e tanta cultura. Eu já vi muito sobre o Brasil em programas de viagem, então também estou na expectativa de experimentar a comida, os temperos e, quem sabe, uma ou duas caipirinhas!


Apoio:
Edmonton Arts Council
CIDDIC e Instituto de Artes, Unicamp
Escola Livre de Música, ULM
Grupo de Vésperas, CMU, USP

Grupo de Vésperas

*Texto originalmente postado na página do Grupo de Vésperas do CMU, USP

RESUMO DO 6º ENCONTRO: Vai ser difícil resumir essa... Ontem nos debruçamos durante três horas sobre os rascunhos do quarteto de cordas e os estudos para saxofone de André Mestre cuja escrita origanalíssima dispensa elogios. Empregando um sistema combinado de tablatura e pauta tradicional André trouxe para nós uma nova realidade de escrita e poética musical a qual levantou muitas questões e discussões que se estenderam por três horas. Em resumo...

O André já havia me antecipado esta tendência atual em sobrepor sistemas de tablatura ao sistema de notação convencional que remontam ao "Gesti" de Berio e, posteriormente, a Lachemann. A grande novidade no uso deste sistema composto é que ele permite trabalhar direta e artesanalmente sobre a materialidade sonora via aporte gestual. Precisamente, trata-se de dar autonomia aos componentes gestuais, no sentido em que os signos gráficos deixam de orbitar em torno do pentagrama (enquanto acúmulo de sinais e indicações linkadas as notas) e passam a constituir uma camada individual sobreposta as linhas, criando assim o que chamamos de "polifonia de registros". Creio, isso ficou claro para todos no duo para Violino e Violoncelo ("Narrow is the Road") onde cada músico tem a sua frente uma pauta e uma tablatura sobreposta, sendo que esta permanece em "únissono" gestual no decorrer da peça, enquanto as "notas" e notações no pentagrama diferem substancialmente em rítmica e componentes materiais. Construção semelhante e mais desenvolvida encontramos no quarteto ("Corpo Confesso"). A última peça, os três dos cinco estudos para saxofone ("The Sorrowful Mysteries") que ouvimos - também com tablaturas mais leves - chamou a atenção pelo conjunto coordenado de técnicas extendidas, de modo a buscar uma linearidade "discursiva" fora dos eixos tradicionais, ou como o André chamou, se valendo da semiótica, de estar fora dos eixos "simbólicos" que reiteram as mesmas convenções discursivas. O terceiro estudo em notação circular apresentou uma grande proposta de roteirização livre (obra aberta) de leitura. Ampliando a proposta do Crumb em "Makrokosmos" este terceiro estudo funciona em três círculos coodependentes, três anéis sobrepostos, onde o intérprete, mediante alguns caminhos indicados, salta de um círculo ao outro e atinge velocidades diferentes. Todo material é derivado de um cantochão que cohabita no círculo interno com algumas vogais e consoantes extraídas dos cânticos. Vale notar ainda a intenção com que isto é feito, que nas palavras do André, vem a se tratar de expor o intérprete ao público, transitar na penumbra, transitar numa linha instável que separa (ou funde) o público da música contemporânea. Para quem lembra do encontro com o Rodrigo Bussad no ano passado em que falamos de uma questão de zona de risco e trocas de escutas com intérpretes... pois bem, vemos a questão aqui ser rearticulada em outro contexto. Termino essa dizendo foi um enorme prazer contar com o André para este encontro.

Espero que todos tenham se animado a compor para o que virá em breve.
Creio que esta última peça nos deu uma amostra de quem estará aqui para o workshop em Agosto (Alisson Balcetis).

André Ribeiro é compositor e pesquisador. Saiba mais.

Array Young Composers' Workshop

This year I had the opportunity to participate in the Array Young Composers’ Workshop. The workshop takes place every year in Toronto allowing emerging composers to work towards a new piece with the Array Ensemble for a period of one month. Other highlights include individual mentoring and weekly seminars where the composers get to share their thoughts and present on their music.

Getting to hear about other people’s work is often the most valuable part of music festivals, but the Array Workshop really brings that experience to a different level: composers are encouraged to attend each others sessions with the ensemble, thus the process by which the works evolve is palpable. The other participants on this year’s workshop were Janet Sit, Sophie Dupuis and Sandro Manzon–it was such a pleasure getting to know them.

Sessions
Each composer was granted 10 hours to work with the Array Ensemble during the course of May. The Ensemble is one big pool of performers and this year it was decided that a we would have an unusual trio to work with: piano (Stephen Clarke), cello (Lydia Munchinsky) and double bass (Adam Scime–who I met previously this year at the CCMW workshop). For the first session, we were told to bring anything but a throughly composed score–the idea was to start to build something from the start. That being said, it was natural that the first and second weeks gravitated around base issues like sound material and notation; gradually, though, things moved into rehearsal of excerpts, controlled improvisation and fine adjustments. I intend to write in detail about The Flower Sermon in a separate post, but I should say this work marked a change of direction in terms of the notation system I normally employ. Being in a situation other than the standard two-rehearsal scenario allowed me to experiment in a new direction for there was time to incorporate feedback and for the performers to get used to something they might not find immediately readable.

Rick Sacks with the Array Ensemble

Mentoring
This year the workshop had two mentors: composers Linda Caitlin Smith and Henry Kucharzyk. Linda worked extensively with the four of us during the workshop facilitating discussions, mediating rehearsals and individually meeting everyone to talk about whatever issues we had in mind; Henry did the same, but mostly during a week where Linda was absent, attending a premiere in Malta. The mentoring was quite helpful as both of these composers have been around this workshop long enough for them to know where there was room for things to be pushed and where compromises were a wise choice. 

Percussion Workshop / Gamelan Improv
During the third week we had a treat: Rick Sacks, current artistic director of the Array Music and percussionist, invited us to an afternoon of experimenting with percussion instruments. Rick is one of those guys that know everything about what he does and has seen it all–not only that, he has the kindness and energy to share all these things if time allows. Well, time we had. I left with drawings of little fascinating instruments that didn’t even have a proper name. Last but not least, each one of us sat down by one of the javanese gamelan instruments for an improv session, also led by Rich who is a member of the Evergreen Club, a gamelan ensemble dedicated to commission new music for the instrument (!).

Composer Sandro Manzon during the gamelan improv.

Experimentation

The workshop proved to be a true laboratory. We experimented extensively with sounds–either by playing the instruments in the least conventional way ever or expanding them by adding preparations or percussion. Naturally a big part of all this research did not make it into the final works–rather, they are now part of the internal palette every composer has to cultivate. For me, the workshop was particularly important as it allowed me to take a few notational risks, which I will discuss in a future post.

Lastly, I would like to really express my public appreciation for all the work that is put every year into this workshop. This is something that has been done for over 25 years and I can’t begin to image the impact it had on the life of so many composers; I can’t also think back of my home land and how much it needs something similar. So here is the my most sincere thank you to these amazing people that believe in new music and invest their time and effort into making it happen.

 

Workshop

The Young Composers’ Workshop is made possible through the generous support of:
Art Mentor Foundation Lucerne
Canada Council for the Arts
Ontario Arts Council
Toronto Arts Council
SOCAN Foundation